A lenda do rato no telhado
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[Apresentação]
Os prazeres do medo
Há uma pergunta que todos nós, leitores apaixonados pelo medo, já fizemos ao menos uma vez: em um mundo repleto de histórias reais terríveis, por que ler histórias de horror de mentira? A dúvida pode ter surgido no meio de uma passagem horripilante, que nos fez fechar um livro assustador e jurar que nunca mais leríamos nada desse tipo. Posso apostar, porém, que você abriu de novo aquele livro, chegou até as últimas páginas e só foi tornar a se lembrar da pergunta não respondida no meio de outra passagem horripilante, que lhe fez fechar um outro livro assustador...
Eu e você não somos os únicos a nos intrigar com essa pergunta. Ela já foi feita por inúmeros escritores de horror, de Ann Radcliffe a Stephen King, de Mary Shelley a H. P. Lovecraft – afinal de contas, também eles foram leitores dessas histórias. As respostas dadas são muitas e variadas: cada época e cada lugar têm motivações peculiares para produzir e consumir ficções do medo; assim como cada um de nós pode pensar em razões particulares para explicar o prazer que sentimos lendo essas narrativas. O que impressiona, contudo, não é que as respostas variem tanto, mas que a pergunta continue sendo feita: geração após geração, as pessoas continuam procurando as narrativas de medo.
Se é verdade que o prazer do medo parece atravessar a história humana, não é menos verdadeiro que nem sempre a humanidade temeu as mesmas coisas. Muitos dos temores de ontem nos parecem, hoje, risíveis – como acreditar que se navegarmos em linha reta chegaremos ao fim da Terra plana e despencaremos em um abismo. O que sabemos e o que acreditamos saber sobre o mundo e sobre os homens, em cada momento histórico, limita as fronteiras do medo – o que implica dizer que muitos de nosso medos de hoje serão ridículos para nossos tataranetos...
É por isso que aqueles que estudam as narrativas de horror costumam dizer que cada sociedade cria seus próprios monstros. Nos seres monstruosos são projetados os terrores, as ansiedades e as inseguranças de um grupo social. Assim, se é o assombroso e imprudente poder da ciência que nos preocupa, criamos o Doutor Frankenstein, o cientista louco; se os riscos da energia nuclear nos tiram o sono, criamos Godzilla, o lagarto gigante gerado por radiação; se o comportamento alienado dos seres humanos nos aterroriza, criamos milhões de zumbis que destroem nossas civilização... Eu poderia preencher páginas e páginas com outros exemplos, mas vou deixar por sua conta: tente descobrir quais são os medos que criaram os monstros que você conhece.
Quando você tiver terminado, poderemos voltar à nossa pergunta. Você já terá percebido que uma das razões determinantes para gostarmos de histórias de horror reside no fato de que elas nos ajudam a lidar com nossos medos e inseguranças reais. Ao acompanharmos o percurso e as atribulações dos heróis, aprendemos como enfrentar os nossos próprios monstros. As narrativas de medo são uma aprendizagem emocional, que nos fortalece ao mesmo tempo que nos dão um prazer insuperável – o deleite de experimentar algo intenso e extremo, sem correr os riscos de nos machucar.
Chegou a hora de você conhecer o pequeno Miguel, e descobrir se ele conseguiu enfrentar seus medos e derrotar o malévolo Rato do Telhado. Talvez ele tenha conseguido, talvez não. Não serei eu a estragar o prazer da sua descoberta. Mas, independente do desfecho, o jovem leitor sairá vitorioso, fortalecido e melhor preparado para os desafios do mundo real. Porque, como nos lembrou G. K. Chesterton há um tempinho, as histórias de medo importam não porque nos falam que monstros existem, mas porque nos mostram que eles podem ser vencidos.
Júlio França
Professor de Teoria da Literatura da UERJ e coordenador do Grupo de
Pesquisa Estudos do Gótico (CNPq)
Informações Adicionais
Autor (a) | Felipe Campos |
ISBN | 9788560458677 |
Formato | 20x28 |
Páginas | 84 |
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